AS OBRAS DA IGREJA MATRIZ DE CANGUSSÚ.
OBS: Na época o nome do município
era escrito com SSÚ, tendo sido alterada
para “ Canguçu” somente na década de 1960. O título da matéria foi escrito
conforme o original, nas demais vezes em que a palavra aparece usei a grafia
atual.
Entre as várias obras de arte em andamento no
sul- do país, de autoria e realização do artista conterrâneo Adail Bento Costa,
inclui-se a centenária Igreja Matriz de Canguçu.
TEMPLO
CENTENÁRIO E COMBALIDO
Esta
igreja, contando atualmente 150 anos, atingira um péssimo estado, quanto a sua
resistência, embora toda construída em pedra. Lançada em boas proporções
arquitetônicas, sobretudo para a época em que foi construída já se tornara
pequena para a cidade atual.
TORNOU-SE
NECESSÁRIO AUMENTA-LA
Formaram-se
duas correntes, uma era a favor da conservação da antiga igreja, coisa alias
justíssima, em se tratando de patrimônio histórico e quiçá artístico, pois a
igreja encontrava-se por último, completamente deturpada. A outra, era de
opinião que se deveria demolir o templo, fazendo-se uma outra igreja
completamente nova e em bem maiores
proporções.
CONVIDADO O
ARTISTA
Indo a passeio a Canguçu, Adail Bento Costa
foi convidado a dar sua opinião sobre o assunto. Achamos que a comissão-de-obras
agiu com grande felicidade em convidar o artista, porque sendo ele um dos
maiores conservadores de arte antiga do Brasil, conseguiu num relance conciliar
os dois pontos-de-vista, ou seja, conservando a linha arquitetônica primitiva e
aumentando a resistência e o tamanho necessário aos fiéis.
CONCILIADOS OS
PONTOS DE VISTA
Estes
dois pontos-de-vista foram unidos da seguinte maneira: conservando a fachada
com as duas torres, restaura-las, suprimindo tudo o que tenha sido adicionado
posteriormente à construção (deturpações), demolir o resto da igreja e
construir outra mais longa, composta de 3 naves, separadas por arcos laterais,
capela-mor, capela Nossa Senhora das Graças, uma sacristia e uma biblioteca que
por sua vez liga-se a casa paroquial.
PERSPECTIVA DA
OBRA EM CONJUNTO
A
igreja está situada defronte a praça central. No decorrer da fachada, à
esquerda, será construído um muro e portões coloniais, dando acesso a um jardim
e casa paroquial que é ligada a matriz, fazendo parte integral do bloco da
construção. Do lado direito há uma rua em declive que, chegando à parte
posterior dá-nos mais 4 metros e vinte
de altura ao templo. Tal diferença facilitou a construção de um grande salão
paroquial sob a sacristia e que abrange toda a largura da igreja.
Sendo
assim, de vários pontos da cidade, essa obra nos dará perspectivas
surpreendentes de grande beleza quer no que diz respeito à obra de estilo, como
enquadrada em conjunto no difícil e pitoresco plano urbanístico.
DECORAÇÃO DO
TEMPLO
Será
feita no gosto da época em que foi construída, queremos dizer: primando pela
singeleza. Assim as paredes serão caiadas de branco. Os tetos em óleo
branco-fosco. Os altares nichos, em óleo branco- fosco e molduras, florões e
demais ornatos, serão recortados em azul-português brilhante. As portas
internas e externamente, no mesmo azul. As imagens serão as mesmas antigas, em
cedro esculpido, laminadas em ouro e pintadas em estilo barroco, restauradas
por Adail bento Costa, os lustres e demais pendentes de iluminação, obedecerão
estritamente as exigências do estilo, bem assim as credências, os bancos a mesa
da comunhão, confessionários e demais mobiliários ao culto.
Serão
conservados também a pia batismal (trabalho originalíssimo, rústico em granito)e
mais duas para água benta, à entrada da porta principal. É preciso acentuar que
todo o mobiliário será desenhado e dirigido por Adail Bento Costa.
EXEMPLO DE
GENEROSIDADE DIGNO DE IMITADORES
Adail
Bento Costa nasceu na cidade de Pelotas. Sua Exma. progenitora era filha de
Canguçu, pertencendo à tradicional família Bento, uma das maiores lá
existentes. Eis um dos motivos pelos quais ao aceitar a responsabilidade da
obra, o artista ofertou gratuitamente o seu trabalho.
Saudando
o povo canguçuense no primeiro centenário
de sua cidade, almejamos que esse exemplo de desprendimento encontre eco entre
os verdadeiros amigos dessa terra de tradições heróicas e de rasgos generosos,
empenhados seriamente em dotar em breve a sede municipal de uma obra
arquitetônica digna de seus reconhecidos foros de cultura.
Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
Ano: 1949
Arquivo fotográfico do Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa
Estamos publicando nesta página uma reportagem
sobre a restauração da Matriz de Canguçu (trabalho do nosso prestimoso
colaborador Dr. Francisco Dias da Costa Vidal) em que são focalizados
pormenores da obra.
Nada mais justo e oportuno
do que entrevistar o Dr. Tasso Selistre, presidente da comissão de obras, a fim
de que nos relatasse o trabalho da mesma comissão na importante campanha em
prol da restauração do tradicional templo.
IMPORTANTES
DECLARAÇÕES DO DR. TASSO SELISTRE
Abaixo
transcrevemos nossas perguntas e as respostas do Dr. Tasso Selistre, presidente
da comissão de obras pró-restauração da matriz de Canguçu:
-Como está constituída a
Comissão de Obras?
-A atual Comissão de Obras
data de 7 de dezembro de 1953, quando nomeada por S. Excia. Rvma Dom Antônio
Zattera , D.D. Bispo Diocesano, o qual houve por bem distinguir-nos com a
presidência, sendo constituída de mais
os seguintes membros efetivos : Hugo Nobre do Nascimento, vice-presidente;
Cândido Silveira Van-Gysel, primeiro tesoureiro; Thomaz Fonseca, segundo
tesoureiro; Raul Soares da Silveira, secretário.
É óbvio que a Comissão
sempre foi assessorada pelos Ver. Padres da paroquia Júlio Marins e Zomar
Garcia, vigário e coadjutor respectivamente, e Hilário de Melo Munhoz e
Severino Frizzo, que o sucederam.
-Como foi iniciada a
campanha para angariação de fundos para a vultosa obra?
-As condições precárias do velho e
tradicional templo a muito prendiam a atenção dos católicos de Canguçu e
preocupavam os seus frequentadores. Daí uma série de iniciativas levadas a
efeito no decorrer dos anos, seja para soluções de emergência, seja para uma
obra de caráter definitivo e que já se vislumbrava. Neste sentido destaca-se a
campanha desenvolvida por um grupo de senhoras da sociedade local, encabeçada
pela distinta dama D. Cacilda Moreira Bento, pertencente a uma das mais antigas
famílias do município, cuja coleta somada a outros donativos, proporcionou a
comissão uma apreciável base para o começo de suas atividades, um encaixe de
cerca de Cr$ 100.000,00, isto nos primeiros meses de 1954.
Posteriormente
novas instituições foram criadas, por exemplo: a dos legionários, os que
contribuíam com um mínimo de Cr$ 2.000,00 ainda que parceladamente e que terão
os nomes gravados no interior da Igreja;
a dos provedores, a cargo das dedicadas zeladoras do apostolado da oração e
auxiliares, o que mediante módicas contribuições mensais ,
ensejam a indenização de pequenas e
correntes despesas; a dos obreiros, isto é, os que contribuem com mão de obra
ou material de construção. Acresçam-se a
isso prestimosas doações de fiéis e amigos de Canguçu.
-
Em quanto está orçada a restauração final?
- O
projeto adotado é de autoria do preclaro professor Adail bento Costa , acompanha-se
de um orçamento a título informativo que
supera Cr$ 3.000,00. Todavia cumpre salientar
que esse custo baixará muito dadas a orientação seguida e a reiterada gratuidade verificada: Planta, responsabilidade do arquiteto, serviços materiais ,transporte,
etc.
-
Para quando está previsto o término da obra?
-Não
há tal previsão, precisamente porque a reconstrução da Matriz está e continuará
subordinada as condições do momento, às possibilidades que se abrirem em
consonância com a maior ou menor cooperação encontrada. Pode-se dizer que os
canguçuenses tem em suas mãos o controle da celeridade das obras.
-Como
foi recebida pela população de Canguçu a ideia da restauração da Matriz?
-Não
se trata de uma ideia recente e sim amadurecida. A diferença está em que, agora
se a pôs em prática, se concretizou.
Alias uma decorrência imperante da necessidade. A edificação antiga se
ressentia da ação prolongada e destruidora do tempo, tanto que três técnicos
condenaram-na, chegando a admitir o perigo de que ruísse.
-
Tem sido bem recebida pelos canguçuense a campanha desenvolvida pela comissão
de obras?
-
Tudo faz crer numa afirmativa, mesmo diante da generosidade dos auxílios
prestados e do interesse, quiçá, entusiasmo, manifestado pelos
canguçuenses no reerguimento da Matriz.
Isso até permitiu a aquisição de um valioso prédio, situado na Praça Marechal
Floriano, em pleno centro da cidade, a construir um fundo patrimonial da
paroquia e resolvendo a difícil situação criada com a demolição do primitivo templo:
instalação transitória da Igreja, da casa paroquial e das obras assistenciais.
Ao
finalizar, o Dr. Tasso Selistre nos prestou mais as seguintes declarações sobre a restauração da centenária Matriz:
A
Igreja parcialmente demolida há mais de século e meio acolhia o povo de
Canguçu, nela se lhe dispensando conforto moral e espiritual. Na sua
reconstrução, muito ampliada em virtude das necessidades da paroquia,
conservar-se-á o estilo e se manterá a fachada em respeito a tradição.
A
proposito salienta-se que professor Adail Bento Costa, renomado artista
patrício, apanhou e compreendeu com muita exatidão os sentimentos dos
paroquianos de N. S. da Imaculada Conceição ao elaborar o seu projeto.
A
interferência do professor, planificando e orientando a obra é algo de
decisivo e inestimável para o
empreendimento, reflexo de um desprendido e magnífico coração, não menos
valioso sendo os préstimos do seu colaborador, o engenheiro Fernando Bezerra
Bertoli. A nova Matriz será obra de mérito marcante para Canguçu e seus filhos.
Quem constrói a casa de Deus na terra, constrói o próprio lar no céu.
FONTE: Jornal Diário Popular de 14 de novembro de
1957
Arquivo Nº 2 - Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa
Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição
100ª Novena realizada neste ano de 2013
Parabéns!
Coroação de Nossa Senhora
Arquivo Fotográfico do Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa
(OBS- O estandarte de Santa Terezinha que aparece a direita na foto encontra-se em exposição no Museu Municipal Capitão Henrique José Barbosa)